A importância da vinculação
“O amor materno na primeira infância é tão importante para a saúde mental, como vitaminas, e proteínas para a saúde física”, Jonh Bowlby
A vinculação é um conceito muito reconhecido no estudo das relações humanas e pode definir-se como a ligação emocional e inata que se estabelece entre a criança e a figura cuidadora (figura materna, figura paterna ou outra que as substitua na sua plenitude). Quando nascemos somos dependentes dos adultos, não só para satisfazer as nossas necessidades básicas, como comer e beber, mas também porque precisamos de afetos e atenção. Sem esses requisitos não nos desenvolvemos adequadamente, e posteriormente teremos muitas dificuldades nos relacionamentos interpessoais.
Foi John Bowlby, psiquiatra e investigador britânico que, nas décadas de 50 e 60, desenvolveu a “Teoria da Vinculação”, que posteriormente Mary Ainsworth, uma psicóloga canadiana-americana, aprofundou.
A “Teoria da Vinculação” é uma teoria psicológica que descreve como os seres humanos, desde a infância, desenvolvem laços emocionais fundamentais com os cuidadores principais (geralmente os pais) e como esses laços influenciam o desenvolvimento emocional e social ao longo da vida. Os bebés têm uma necessidade biológica e inata de se conectar com uma figura de cuidado principal e essa conexão fornece segurança emocional e proteção contra o stress e o perigo. Bowlby argumentou que esses primeiros laços têm um impacto duradouro no desenvolvimento emocional e na capacidade de formar relacionamentos saudáveis ao longo da vida e Mary Ainsworth, defendeu que as relações de vinculação podem seguir três padrões: a vinculação segura, a vinculação insegura-ambivalente, a vinculação insegura-evitante, podendo ainda existir a vinculação desorganizada.
Percebe-se, assim, que a relação que estabelecemos com os nossos pais ou cuidadores, é muito definidora das relações que iremos estabelecer na idade adulta, uma vez que é desde criança que aprendemos a observar o mundo, criando padrões de comportamento e de expetativas em relação aos outros. Deste modo, quando chegamos à idade adulta, as relações de vinculação refletem-se nos relacionamentos que estabelecemos com o outro, principalmente os amorosos.
Uma criança que tenha estabelecido uma vinculação segura, tenderá a crescer e a criar relações positivas, a ter facilidade nos afetos e a encontrar um equilíbrio harmonioso entre intimidade e independência. Por sua vez, as crianças que estabelecem vinculações mais inseguras, poderão encontrar mais dificuldades no relacionamento com os outros. Já adultos poderão tornar-se indivíduos mais ansiosos e inseguros nos afetos, estabelecendo relações de dependência e pondo de parte a necessidade do seu espaço pessoal. Particularmente são indivíduos mais impulsivos, preocupados, criando laços desestruturados com o outro.
A boa notícia é que o tipo de vínculo da infância não tem que ser uma sentença: ao longo da vida vamos adquirindo capacidades que nos permitem questionar esses “guiões iniciais” e que nos permitem assumir responsabilidade pessoal por aquilo que sentimos, pensamos e fazemos.
No processo de acompanhamento psicológico é importante perceber o padrão de vínculo daquela pessoa que pediu ajuda, é importante perceber qual é a falta e qual é a história dessa falta. A relação terapêutica perspetiva-se, então, como modelo de um padrão de vinculação seguro, permitindo a essa pessoa experienciar (talvez pela primeira vez) na sua fisiologia, a sensação de segurança, de cuidado. E esta experiência pode ser o primeiro passo para ajudar essa pessoa a nutrir um novo padrão de vínculo mais seguro para consigo mesma, passando a atrair relações mais significativas. E seguras!
